Você não conhecia a solidão até o outro chegar
As emoções são impossíveis de serem conhecidas
senão pela interação com o outro. A própria solidão não é uma emoção que se
possa experimentar sozinho. Um indivíduo, que nasceu e foi abandonado no Alasca
por uma mãe ingrata, e que cresceu sem qualquer companhia, jamais compreenderá
o que é solidão. Vamos para uma hipótese menos absurda. Um náufrago chega a uma
ilha deserta, depois de certo tempo, ele esquece o que é dispor de companhia e
também o que significa estar só. A solidão deixa de existir para ele. Somente o
outro pode lhe dizer que está só.
A verdadeira solidão, que é aquela que não cessa
mesmo no centro urbano, você só conhece quando surge a pessoa que te completa.
Nesse momento entende que esteve sozinho todo um tempo e nem percebeu. Era um
solitário errante e nem sabia disso. Depois de conhecer a verdadeira solidão, o
mundo se torna pequeno. Qualquer lugar do mundo não fará diferença, pois só faria
se aquela pessoa estivesse lá. Ela não estará, então, qual a importância de
para onde ir? Assim, você retorna a situação de errante. No final, penso que
não há outra opção ao ser humano senão a condição de errante. Dificilmente,
alguém tem a felicidade de viver por toda uma vida com a pessoa que lhe
apresentou a solidão.
O que é válido para o sentimento de solidão pode
ser estendido para outras emoções. Veja
a emoção do beijo. Ele pode ser apenas uma rotina burocrática. Odeio beijos
burocráticos, mas eles são mais comuns que deveriam. Lembra-se daquele amigo
que chega beijando todo mundo no trabalho? Pois esse é um beijo burocrático.
Ele segue uma rotina, tem um horário, tem um significado comum e pode ser
massificado. Burocracia weberiana puríssima!!! Não tem emoção nenhuma. A pessoa
te beija burocraticamente, você finge um sorriso e que gostou, e todos
experimentam aquela situação de normalidade. O verdadeiro beijo é anormal. Ele
não estava na rotina. Ele não era esperado. Ele é uma quebra de rotina. Você lá
ia naquela vidinha besta e de repente alguém surge no seu caminho, te abraça e
sem te dar tempo de pensar, te beija. Pronto! Você descobre que há tempos não
tinha sido beijado ou que nunca foi beijado! Você descobre a emoção do beijo e
a sua falta. Há pessoas que vivem uma existência inteira sem conhecer o
verdadeiro beijo, morrem sem sequer saber que ele existe.
Aqui leitor já não preciso mais explicar porque a
emoção é uma construção social. Ela não existe antes da interação, não é uma
qualidade biológica. No entanto, durante séculos foi colocada de lado como
objeto de estudo pela Sociologia, porque não possui a concretude dos números,
dos questionários, das tabelas... Como quantificar emoções? Como descrevê-las
de modo científico? Como definir suas consequências e desdobramentos? Mas esses
são desafios para Sociologia e não limitações.
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ResponderExcluirLi, sei lá o que achei RS; a solidão não é um assunto que me mobiliza; vez ou outra ela atua, acionada por não sei eu o que! aí, nestes casos, fico propenso a pensar nela e sobre ela; de resto, ela passa ao largo; talvez até por defeito de caráter eu tenda a não identificá-la (uns dirão que pode mesmo ser estratégia de sobrevivência, RS). Esses assuntos: amor, solidão, sexo eu tenho dificuldades de pensá-los juntos, como estrutura coerente; tendo a pensar cada um a seu tempo, sem fazer relações diretas entre eles. À semelhança do narrador de "A terceira Margem do Rio" de Guimarães Rosa, fico a imaginar que, em muitos momentos, sou um homem de tristes palavras! mas,ainda assim, tento caminhar no compasso do mais certo!!
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