quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O amor e o medo


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O amor é uma revolução. Não a calmaria de um domingo à tarde, mas a tempestade. Nada resta após ele passar, todas as certezas vão ao chão.  A vida organizada, regrada e constante é desfeita. O amor nos rouba o medo e essa é a origem de toda mudança. O medo é o que te congela, mumifica e imobiliza. O medo nos faz seguir calmos, educados e regrados a vida cotidiana bem comportada. Mas nunca nos sentimos tão desprotegidos como no momento em que amamos. A perda do ente amado, por qualquer razão, pode, da noite para o dia, de uma hora para outra, te levar a angústia, sofrimento, depressão e até a morte. E como o risco é constante e como é preciso enfrenta-lo, diariamente, não há outra saída senão renunciar ao medo.

Não há mais medo quando o pior dos mundos está a sua frente e te acena como uma ameaça constante. Ao enfrentar o pior dos medos, os outros se tornam menores e mais fáceis. Daí a origem de toda mudança, que se soma a coragem. Mas por que ela aparece? Não bastava que o  medo fosse embora?

Não foi apenas porque o medo se foi, mas porque naquele momento você começa a se ver melhor. O outro nada mais é que você mesmo. Um espelho que te leva a conhecer  suas qualidades, vontades, valores, desejos, sonhos... Ah! Uma montanha de coisas esquecidas bem no fundo do baú.  Ele ama uma quantidade de você que havia sido colocada de lado. Ele acorda você. Ele acorda o monstro adormecido.

O beijo do príncipe na Branca de Neve significa isso. A princesa dentro da gata borralheira também possibilita essa leitura. Há um elemento de melhor em você que o outro percebe e que passa, então, a reivindicar sua existência. Também pode ser o elemento de pior, veja os casos de amantes que planejam crimes em comum na perspectiva de viverem seu sentimento numa situação mais confortável. Há algo de incivilizado no amor, sempre houve. É por essa razão que todas as civilizações, em diferentes momentos da história, nunca colocaram o amor como fundamento da sociedade.

O amor foi sempre um sentimento libertino, desregrado, vil, espúrio e que deveria ficar do lado de fora dos lares. Moças de família e de bem não eram aconselhadas a vivê-lo. Bem, voltei ao tema desse blog. Sobre o assunto já falei em outros momentos. Agora, quero entrar numa análise mais psicológica, quero dizer o quanto o amor está relacionado à identidade e como a origem de toda coragem vem de realizar sua própria identidade. O outro faz você se reencontrar com sua identidade, com tudo que para você importa e deixar de lado o que é fútil. Pense que se as pessoas amassem mais o mundo seria uma revolução constante. As manifestações hoje nas ruas do Brasil não terminariam nunca. Ninguém permitiria ser escravizado, pois a escravidão tem a ver com o desejo de segurança.

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