sábado, 5 de dezembro de 2009

Pós-modernidade e o amor eterno


O mundo pós-moderno continua a sonhar com um amor eterno e avassalador. Quisemos levar para o casamento sentimentos que antes tinham um lugar próprio e não estavam na esfera do lar. Só após os românticos o casamento passou a exigir o amor e mais recentemente, ainda, o sexo. O casamento tinha uma função muito prática: transmissão de herança, criação dos filhos, administração da casa e da fazenda. Até o século XIII era uma instituição pagã ou, em outras palavras, não era um sacramento religioso e só os filhos mais velhos tinham direito ao contrato nupcial, pois só aqueles que possuíam herança podiam se casar. Os outros filhos ficavam solteirões e se dedicavam a tarefas como a guerra, expedições e a atividade religiosa. A preocupação da Igreja Católica com os solteirões e seus hábitos mundanos a levou a intrometer-se no contrato do casamento, torná-lo um sacramento e estendê-lo a todos.

A Igreja trouxe para o casamento o sentido do “eterno”, o para “toda vida”. No entanto, proibia o sexo que não tivesse o sentido da procriação e mesmo os carinhos e sentimentos foram refinações de hábitos que só aparecem na idade moderna. Nobert Elias diz, em O Processo Civilizador II, que pouco se falava em amor na sociedade guerreira, na Idade Média: “E ficamos até com a impressão de que um homem apaixonado teria parecido ridículo nesse meio de guerreiros. De modo geral, as mulheres eram consideradas inferiores. Havia mulheres em número suficiente e elas serviam para satisfazer as pulsões masculinas nas suas formas mais simples” (Elias, 1993:78).

Ele explica o amor como uma sublimação da pulsão. O cavaleiro ou o servo estavam impedidos de se aproximar da dama de classe mais alta e, por essa razão, tiveram que controlar seus instintos e vontades, transformá-los em versos e trovas. É a dificuldade em conquistar ou aproximar-se da mulher desejada que leva a renuncia das vontades e a refinação dos sentimentos. Assim aparecem os trovadores, a poesia lírica, como um evento social, uma escola literária.

Para Elias o amor, tal qual o conhecemos hoje e o necessitamos, foi uma criação humana. Os homens viveram sem ele durante muitos séculos. Mas que importância tem sabermos disso agora que não podemos viver sem amar?

Há muitas exigências que foram colocadas a instituição casamento que não existiam antes, quando ela era mais estável e hegemônica. O casamento continua sendo sinônimo de felicidade (veja pesquisa do Datafolha, outubro de 2006), porque para a pós-modernidade encontrar um companheiro com quem seja possível combinar vários gostos realmente torna a vida mais fácil e agradável. No entanto, essa não é a regra, mas sim a exceção. Achar um companheiro ou companheira e viver uma vida juntos, onde os momentos de amor e felicidade sejam freqüentes, é raro. E é raro, pois a combinação de muitas variáveis é uma combinação difícil em qualquer situação. A menos que acreditemos que existe um Deus lá em cima manipulando os dados.

2 comentários:

  1. Parabéns pela matéria.
    Forte abraço.
    Pastor Antônio Dias
    (Igreja Batista Rios de Água Viva) / SP
    Blog. ibravsede.blogspot.com

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  2. Pelo visto, há pouco entendimento de sua parte sobre o casamento. Sem dúvida, em nossos dias o casamento tem sido ridicularizado por aqueles que querem o fim a estrutura fundamental da sociedade. Se você ler um pouquinho da Bíblia, mesmo que seja como uma fonte histórica, verá que o casamento é algo originado em Deus. Foi assim que o apóstolo Paulo comparou o relacionamento marido/mulher com o amor de Jesus Cristo pela igreja.

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