Não há nada de filosófico em Fanny Hill (de John Cleland, publicado em 1749). Apenas descrições cansativas, repetitivas e cheias de detalhes sobre as aventuras sexuais de sua protagonista. O autor não tem a pretensão a qualquer análise ou crítica a sociedade da época. Não há conflitos psicológicos em seus personagens – não são figuras complexas. Não há sequer uma trama bem construída. É uma sucessão de experiências sexuais com um final feliz e moralmente correto. O que retirar do livro, então?
Uma clara separação entre sexo e amor. A certeza de que o sexo está relacionado aos artifícios da imaginação, a idade e aos acasos. Também que as circunstâncias podem favorecer uma vida libertina, independente da personalidade e da educação do indivíduo. Por que o livro escandalizou tanto quando foi publicado, sendo sua publicação proibida nos Estados Unidos até 1966?
Porque fala da sexualidade feminina em si, sem nenhum atenuante. No livro, as mulheres não são vítimas dos jogos de sedução ou de qualquer armadilha. Não é pela força ou por imposição da sociedade que são levadas para cama. Também não são enganadas por fantasias de amor de cavalheiros galantes. O desejo da mulher, neste livro, está dissociado de qualquer norma social ou imposição – ele acontece por homens de classe social mais baixa, por idosos, por sexualmente pervertidos... E não é por caridade ou dinheiro que a jovem Fanny e suas amigas se entregam a orgias com todos esses tipos, mas puramente por prazer.
Talvez por isso escandalizasse tanto. Por descrever a sexualidade feminina e defender que o sexo não inclui necessariamente o amor. Pode até acontecer, mas será uma feliz coincidência.
Termino de ler Fanny Hill e parto para "O Sofá" de Crébillon Fils. Também um romance libertino, publicado em 1742.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário