sexta-feira, 9 de abril de 2010
O romance de Tristão e Isolda
Apesar de trair seu pai adotivo e assassinar quem denunciou seu amor por Isolda, Tristão não vive nenhum drama psicológico por isso. O casal sofre por não encontrar condições ideais para vivenciar seu sentimento, mas não possui nenhum pesar em arquitetar mil artimanhas para enganar o pobre rei Marc. A lenda de Tristão e Isolda data do século XII e nela podemos encontrar evidências do que falamos em outros posts sobre a problematização do amor.
A culpa do casal é perdoada porque foi vítima de uma bebida mágica. A mãe de Isolda quis ajudar a filha a se apaixonar por seu futuro marido. Preparou uma porção e confiou a criada que fizesse os noivos tomarem antes da noite nupcial. “Os que a beberem juntos amar-se-ão com todos os seus sentidos e com todo o seu pensamento, para sempre, na vida e na morte”, explicou a mãe de Isolda. Por acaso, Isolda bebe a porção junto com Tristão e não com o rei Merc.
A bebida mágica tem muita semelhança com a figura do Cupido, nos dois casos o amor é uma fatalidade que não deixa nenhuma margem de escolha aos amantes. Não é um sentimento humano, mas uma capricho da vontade divina. Porque os amantes não têm escolha, não possuem culpa sobre o que fazem para ficar juntos. É como se estivessem possuídos por uma idéia obsessiva, por uma doença que os impede de pensar melhor e pesar suas atitudes. Por essa razão, Tristão repete, em defesa de sua inocência, que nunca havia amado a rainha com “amor culpável”. No seu entendimento e de quem descreve a lenda, ele é completamente inocente.
Tristão e Isolda são vítimas de um sentimento que os domina e que os expõe a viver uma situação para sempre inviável e por essa razão, infeliz e angustiante. A criada de Isolda lê para o casal a sentença a que estariam sujeitos para o resto da vida: “... o caminho é sem retorno, a força do amor já vos impele, e nunca mais tereis alegria sem dor”. A lenda repete o que pode ser lido textualmente em outros textos do período – como em “Tratado do amor cortês” de André Capelão -, que o amor está restrito a uma posição marginal na sociedade. Não pode existir no casamento, tampouco ser exibido nos círculos sociais. Ele existe a noite, entre amantes, sabido apenas por seus confidentes.
O único momento em que Tristão e Isolda ficam juntos, é quando fogem e se escondem na floresta que circunda o palácio. No entanto, amargam uma vida miserável. Vivem da caça, emagrecem, vestem roupas rasgadas, dormem ao relento. Embora estejam juntos não conseguem experimentar felicidade em sua união. Como sentenciou a criada de Isolda: “Bebeste o amor e a morte”.
Tristão e Isolda são vítimas do capricho divino, das restrições da sociedade, de um sentimento que é quase uma doença. Cometem, em defesa do que sentem, inúmeras infrações, no entanto, permanecem inocentes, pois foram escolhidos pela vontade superior a experimentar para o resto da vida e talvez da morte- pois são enterrados juntos –, um amor que os escraviza. Apesar de seus crimes não são culpados. A própria sociedade sai em defesa deles quando são sentenciados pelo rei Merc a serem queimados vivos.
Porque não há culpa digo que não há problematização do amor. Questionará o leitor: "Não é suficiente tudo que o casal passou? Não são problemas?" Sim, experimentam vários problemas, mas não existe a culpa. Eles não reprimem o que sentem, não são recriminados pela sociedade, não são condenados pela religião, não lutam para que o sentimento exista na vida doméstica, nos canais formais. O amor está fora da sociedade e por conseqüência seu amantes não sofrem o peso da sociedade. O amor nesta lenda é pagão, é desleal, é traidor, não tem limites.
Nossa sociedade moderna reinventou o amor bem comportado com “sabor de fruta mordida”. Mas de vez em quando o amor de Tristão e Isolda reaparece com toda a sua violência nas páginas policiais da grande Imprensa.
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O amor
ResponderExcluirefêmera flor,
de terma cor,
emaranhado por ser impossível,
como o diamante naturalmente puro e duro,
o amor efêmero,
mágico, sem fronteiras está
por toda parte,
ai daquele que o contrair,
terá vida passageira,
ou longa, mas de eterna dor.
Muito bom, essecial.
ResponderExcluirGostei muito do post.
é como eu digo isso dá livro kkkk
e dos bons.
Mary Del Priore já trabalhou este tema emHistória do amor no Brasil. Mas nada como a criatividade para ampliar uma ideia.xD
Oi Cinara, sou o colega que pediu divulgação dos blogs, muito legal este post, legal também um filme que vi recentemente com Vagner Moura, Leticia Sabatela e wlad Brischta, uma paródia sobre este casal... vale a pena ver.
ResponderExcluirabç
Haroldo
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